Entrevista Lou S.
Sou produtor musical, compositor e também locutor. Trabalho com discos, trilhas sonoras e locução desde 2000. Tenho três álbuns lançados, “Decompression” (2016) , “Universo em fade” (2011) e “Turn me Off” (2020) e também sou sócio e diretor de criação da Antfood, music house com estúdios em NY e SP e AMS.
Já desenvolvi trabalhos para marcas como Fiat, Ford, Coca-Cola, Old Spice, Corona, Sony, Budweiser, Natura, Avon, GM, VW, Mitsubishi, Puma, Nike, Samsung, Vivo, entre outras.
Tive trabalhos premiados nos mais prestigiados festivais de criatividade nacionais e internacionais, como Cannes Lions, The One Show, Wave Festival, Ciclope e CCSP. Em 2020 fui eleito melhor produtor musical no Whext Festival.
Ouça a Entrevista:
Como você começou na carreira?
Em 2003 eu ainda morava em Porto Alegre e já trabalhava em uma produtora de som. Eu produzia trilhas, jingles e também spots de rádio, que são peças que sempre tem locução. Com isso gravei e dirigi muitos locutores e atores, até que um dia meu antigo chefe chegou no estúdio e me falou:
“Entra ai no estúdio e tenta fazer uma voz de surfista!”. Foi nesse momento que eu percebi que podia aprender a usar a minha voz em locução e até fazer disso uma renda extra ou uma segunda profissão.
A partir disso acabei melhorando e aprendendo na prática, muito pelo fato de trabalhar full-time dentro de um estúdio.
Qual é a habilidade mais importante para um(a) locutor(a)?
Eu diria que é a flexibilidade, mas gosto de dividir ela em tópicos.
– Flexibilidade pra conseguir fazer diversos tipos de voz e de acting e não virar aquele locutor indirigível que sempre faz a mesma coisa;
– Flexibilidade técnica pra conseguir usar a voz e a respiração de maneira consciente, dominando as possibilidades de emissão e inflexão;
– Flexibilidade em ter a cabeça aberta, deixar o ego de lado e não fazer julgamentos. Entendendo o que a peça precisa pra funcionar, qual é o papel da voz no contexto, o que o cliente está buscando e o que a pessoa que está dirigindo a locução está te pedindo.
Quais são os maiores desafios que essa profissão apresenta no cotidiano?
Se você quer ser um bom fornecedor de locução, você precisa entender as peculiaridades do mercado de publicidade, que é um mercado que funciona de maneira bem diferente das profissões mais tradicionais, inclusive em termos de horários. Como os comerciais normalmente mexem com muito dinheiro das marcas, existem muitas instancias de aprovação, muitas verificações de texto de natureza jurídica e prazos bem curtos em função das datas pré-definidas para que um filme esteja pronto para ir ao ar. Tudo isso gera retrabalho, ou seja, regravacões. Seja por mudança de acting, mudança de texto, ou porque nem todos os clientes responsáveis pela aprovação estão satisfeitos com a peça. Até agradar a todos os envolvidos e cumprir todos os requisitos você vai gravar e regravar o texto diversas vezes. Tem que ter paciência.
Tem alguma história engraçada ou briefing diferenciado pra contar pra gente?
Em 2016 vez eu gravei uma locução pra um filme da Hershey’s chamado “Abra a boca e coma o site”. Este filme foi todo feito com uma colagem doida de vários jargões e memes da época. E o resultado ficou super esquizofrênico e divertido. Nesse filme acabei gravando a voz de todos os personagens: do mais grave ao mais agudo, de homem, de mulher, de cozinheiro francês, de Lasier Martins levando choque na festa da uva, de bichinho bobão de desenho animado. Foi uma experiência super interessante com um resultado super legal e ainda serve como um cardápio de timbres e actings.
Qual a importância de agências de locução como a Loc On Demand para o seu trabalho?
É um meio super valioso para conseguir novos jobs e clientes que não chegariam pelas vias normais. Com o passar do tempo construímos uma carteira de clientes que acabam voltando sempre e cada locutor acaba ficando dentro da sua bolha. Acredito que a agência de casting pode ser um meio de aumentar essa bolha.
Outro ponto super interessante que espero que aconteça nos próximos anos, é a centralização dos castings de locução via agências de locutores, que é o modelo mais praticado nos Estados Unidos.
No momento em que as agências de publicidade separarem essa parte do job e tratarem de locução de maneira externa a produtora de som que faz música e sound design, o mercado vai se tornar muito mais dinâmico e profissional. Espero que aconteça logo.
Quais são os seus objetivos daqui pra frente? Alguma novidade por vir?
Seguir trabalhando com música e locução e focar cada vez mais na minha carreira solo. Tenho direcionado toda minha energia pra divulgar meu trabalho artístico na música através das redes sociais. Minha ideia é cada vez mais apontar todos os holofotes pra isso, meio que misturando o “Lou Produtor de Trilha Sonora” com o “Lou Artista” que faz discos e performa ao vivo. Pra quem não conhece, meu trabalho autoral é meio industrial, misturando elementos de rock, eletrônico, música cinemática, estética glitch e cyberpunk. E minhas as performances ao vivo são no modo Live PA, misturando música eletrônica com instrumentos tocados ao vivo. Eu fiquei muito tempo guardando meus discos pra mim. Quando eu entendi que a Internet virou um grande palco através das redes sociais, passei a criar conteúdo e manter uma constância de postagens e divulgações. Além disso pretendo continuar lançando discos e fazendo mais shows assim que for possível.
Qual conselho você daria para quem está começando no ramo?
Não ter nenhum tipo de preconceito ao ser dirigido ou quando receber um briefing diferente do que está acostumado e ser flexível e aberto pra aprender! Nesses vinte e poucos anos de carreira vi de tudo um pouco e muitas vezes o orgulho e a vaidade atrapalharam o resultado final de um job. É preciso entender que você não vai brilhar sempre e isso é OK, faz parte do game, afinal é um trabalho.
Estar sempre antenado no que está acontecendo no mundo da publicidade é super importante, pois as diferentes vozes e os diferentes actings entram e saem de moda e se você não se adaptar vai parar de ser chamado pros jobs. Aprender a fazer voz que não pareça locução é talvez o pedido mais frequente de todos, portanto aprenda a falar de maneira coloquial e convincente mesmo que você não precise usar esse recurso toda hora.
Outra habilidade super interessante e util é saber interpretar o que uma referência quer dizer, pois muitas vezes vão te mostrar uma referência de locução e quase sempre a ideia não é copiar essa locução e sim buscar o sentimento que ela traz. Portanto aprenda a visualizar esses detalhes como pontuação, emissão, palavras valorizadas, velocidade. É isso!
Onde posso ouvir seus discos, clipes, performances e todo trabalho autoral?
No meu site e nas principais redes sociais. Todos os links centralizados no meu Link Tree.
https://linktr.ee/louschmidt